terça-feira, 30 de junho de 2009

Raimundo Caetano e Ivanildo Vila Nova


A dupla de repentistas Raimundo Caetano e Ivanildo Vila Nova esteve ontem(29/06) na Casa da Cultura. A cantoria teve início às 17h, dentro da programação dos festejos juninos. Raimundo é paraibano de Cuité e Ivanildo é da cidade de Caruaru, no agreste pernambucano. O evento não teve uma platéia numerosa, porém os que foram prestigiá-los não arredaram o pé até o final do embate. A dupla atendeu os pedidos do público, motes em sete e dez e algumas modalidades da cantoria como Treze por Doze, Segure o remo e Sete Linhas.
A próxima cantoria com a dupla aqui no Recife será no dia 16 de julho em San Martin, no Bar do Paulo.
Serviço:
Cantoria com Ivanildo Vila Nova e Raimundo Caetano
Dia: 16 de julho, às 20h30
Local: Bar do Paulo
Rua Visconde de Parnaíba, nº 22, San Martin(ao lado da Chesf)
A cantoria será de pé de parede e todos estão convidados.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

"Poeta é aquele que tira de onde não tem, e bota onde não cabe." Pinto do Monteiro

Já dizia o sábio repentista Pinto do Monteiro: "Poeta é aquele que tira de onde não tem, e bota onde não cabe", a frase ilustra uma situação engraçada. Clarissinha, minha filha, hoje com 9 anos, me acompanha às vezes na rádio. Ela adora desenhar, então sempre que eu recebia um convidado, e ela por lá estava, presenteava-o com um desenho. O poeta Jeguedé, grande poeta, recebeu o desenho acima e logo escreveu:

"Vai a galinha correndo
Vai a lagartixa andando
O sol está clareando
O chocolate eu pretendo
O bode aparecendo
Lá no meio da campina
O dedo aponta e ensina
O caminho da casinha
Onde mora Clarissinha
Aquele amor de menina."

Por Jeguedé
(Histórias do livro "Voz do Sertão- um desafio no repente".)

domingo, 21 de junho de 2009

Viva Rogaciano Leite!!!!

ROGACIANO LEITE

Uma das estrofes mais repetidas no universo da poesia popular foi escrita por Rogaciano Leite, em Setembro de 1950.


"Senhores críticos, basta!
Deixai-me passar sem pejo,
Que o trovador sertanejo
Vai seu pinho dedilhar...
Eu sou da terra onde as almas
São todas de cantadores
-Sou do Pajeú das Flores
Tenho razão de cantar!

Essa estrofe inicia o poema "Aos Críticos"(no total são 16 estrofes), escrito quando o poeta estava no Rio de Janeiro e publicado no livro "Carne e Alma". Há uma controvérsia em relação a sua terra natal. Particularmente não compartilho desta discussão. Se ele é pernambucano de Itapetim ou de São José do Egito, tanto faz. Mas a verdade é que ele nasceu em junho de 1920 no Sítio Cacimba Nova, nas Umburanas, hoje pertencente a Itapetim, mas quando ele nasceu pertencia a São José do Egito, então pela obviedade em seu registro ele é egipsiense. Morreu no dia 7 de outubro de 1969 no Rio, seu corpo foi levado ao Ceará, onde foi enterrado em Fortaleza cidade em que viveu.

Meu bisavô paterno Juvino Leite foi irmão da mãe de Rogaciano, o que me faz ser pela árvore geneálogica prima em terceiro grau do poeta. E foi das histórias contadas por minha avó Nemésia Leite, sua prima legítima, que tive as primeiras impressões desse poeta malassombrado - que é como a gente chama os talentosos poetas do sertão. Acho inclusive um descaso um poeta do porte de Rogaciano ser praticamente desconhecido no seu Estado.

Com uma inquieta crítica às diferenças sociais Rogaciano deu voz ao grito do povo, ao escrever "Aos trabalhadores", em 1943. Um trecho:

"Trabalhar! Que o trabalho é sacrifício santo,
Estaleiro de amor que as almas purifica!
Onde o pólen fecunda, o pão se multiplica
E em flores se transforma a lágrima do pranto!

Mas não vale o trabalho andar a passo largo
Quando a estrada é forrada de injustiça e crimes
Porque em vez de dar frutos dúlcidos, sublimes,
Gera bargos mortais e de sabor amargo!"

Em sua viagem a Europa na década de 60, Rogaciano deixou fincado um pouco do seu talento em um monumento na Rússia, o poema acima "Aos trabalhadores", na praça de Moscou.

O escritor baiano Jorge Amado, ao ver uma apresentação do poeta disse: "Versos que seriam dignos da pena de Castro Alves!". E era como Rogaciano era comparado, inclusive pelo porte físico e pelas madeixas negras.

De cantador de viola a jornalista premiado, recebeu o prêmio ESSO pela reportagem "Amazônia", foi bancário e formou-se também em Direito. Soube passear pelos improvisos ao som da viola e pelas mais variadas formas de versos, do soneto aos motes e até composições, é de sua autoria a canção "Cabelos Cor de Prata", em parceria com Sílvio Caldas.

Em 1948 Rogaciano trouxe o primeiro festival de cantoria para dentro de um teatro, foi no Teatro de Santa Isabel que ele e Ariano Suassuna abriram as portas para a cantoria de viola, até então distante dos palcos teatrais.

O repentista Valdir Teles acertou ao escolher o "Poema da Minha Terra" da autoria de Rogaciano para gravar em seu CD Cancioneiros do Povo, dele e do também repentista João Lourenço. Para ser sincera me emociona demais...é a voz do pajeuzeiro Valdir com as sensações impressas de Rogaciano em suas lembranças.

Em suas apresentações em Manaus, Rogaciano confirmou seu talento e a crítica da época se curvou ao seu encanto. Reescrevo aqui as palavras do jornalista Kedeniro Teixeira, Diário da Tarde, da capital amazonense:

"...O recital de Rogaciano Leite, esse príncipe da poesia nordestina, trouxe aos ouvidos de quantos ali se achavam, pela variedade de sentimentos altamente patrióticos, pela beleza e perfeição, um deleite maravilhoso como se uma acusma de mistérios imateriais o acompanhasse, e por trás da cortina azul-celeste da ribalta o instruísse a fim de criar em nós um abismo profundo da dúvida entre as pérfidas escarpas da mistificação".(1948)

Viva Rogaciano! 30 de junho aniversário do poeta, se estivesse vivo seriam 89 anos de poesia.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Poeta João Paraibano


O repentista João Paraibano, nascido na cidade de Princesa Isabel na Paraíba, é dono de um talento indiscutível.
Com a viola em punho ele é capaz de desenhar quadros poéticos da mais bela inspiração. Seu parceiro de cantoria Sebastião da Silva fez uma sextilha em que disse:


"É de Princesa Isabel
este vate popular;
pode ser príncipe dos versos
que Princesa é seu lugar
quem é filho de princesa
é príncipe onde chegar. "


A foto acima foi tirada no Festival de Paulista(PE), evento que eu apresentei a convite do organizador e apologista Amaro Poeta. Em uma cantoria de pé de parede no Recife, João cantava com Raimundo Nonato. Pediram o mote:
"O chuva levou a cama,
que o sapo dormia nela."

Anotei essa estrofe feita de improviso por João Paraibano, está registrado no meu livro "Voz do Sertão, um desafio no repente."(Ed. Bagaço)

"O nevoeiro escurece
Quando a terra vem surgindo
Vê-se relâmpago se abrindo
Com raio em forma de S
O maxixe sobe e desce
Da quentura da panela
Leite abarrota a tigela
Fora o que o bezerro mama
A chuva levou a cama
Que o sapo dormia nela."









sexta-feira, 12 de junho de 2009

Homenagem por Luís Gondim


O programa Voz do Sertão deve sair da Rádio Universitária nas próximas semanas e ser transmitido pela Rádio Folha FM(96.7) em novo horário, e com apoio da FUNDARPE. Com este tema, o poeta de Sertânia Luís Gondim presta uma homenagem com o mote:
"Meio-dia ou seis horas, tanto faz;
ouvirei meu programa preferido".




Do programa que amo, eu sigo o rumo
Às seis horas eu sempre o escutei
Com esse horário eu me acostumei
Mas com esse que vem me acostumo
Com certeza eu só me desaprumo
Se ficar sem ouvir no meu ouvido
O martelo, o mourão, queixo-caído
E o que é que me falta fazer mais
Meio-dia ou seis horas, tanto faz
Ouvirei meu programa preferido
*
No começo da tarde ou no final
De Roberta o programa me convém
Se em hora mais fria ele faz bem
Em horário mais quente não faz mal
Não importa o horário, afinal
Sendo frio ou sendo aquecido
Será sempre por mim bem recebido
Reclamar, não reclamo, isso jamais
Meio-dia ou seis horas, tanto faz
Ouvirei meu programa preferido
*
Desse novo horário eu já sei tudo
Anotei numa folha de papel
Se o horário não pode ser fiel
Ele pode mudar, mas eu não mudo
E nem quero que mude o conteúdo
Que o Voz do Sertão tem nos trazido
O horário eu aceito ser mexido
Mas aquilo que eu ouço eu quero em paz
Meio-dia ou seis horas, tanto faz
Ouvirei meu programa preferido
*
Uma coisa somente o peito teme
É perder do programa o endereço
Pra ouvi-lo eu pago qualquer preço
Sem ouvi-lo, de dor, o peito geme
Quando um dia ele for pra FM
Com certeza por mim será seguido
E mudar seu horário é perdido
Para onde seguir eu sigo atrás
Meio-dia ou seis horas, tanto faz
Ouvirei meu programa preferido
*
O meu plano eu fiz pra enfrentar
A mudança do horário do programa
De manhã, ao deixar a minha cama
E de casa sair pra trabalhar
Vou fazer o seguinte, vou levar
Meu radinho comigo escondido
E assim preparado e prevenido
O problema de horário se desfaz
Meio-dia ou seis horas, tanto faz
Ouvirei meu programa preferido
*
Desde que não me falte poesia
Com horário nenhum me aborreço
No pezinho do rádio eu permaneço
Tendo a lua ou o sol por companhia
Eu espero a chegada desse dia
Sem ficar nem um pouco aborrecido
Alterar do programa o seu sentido
A mudança de horário é incapaz
Meio-dia ou seis horas, tanto faz
Ouvirei meu programa preferido
*
Sou capaz de mudar minha rotina
De fazer tudo quanto for preciso
Só não posso ficar sem o improviso
Que o Voz do Sertão nos descortina
Quando toca a viola nordestina
O programa eu acho parecido
Com uma nuvem que sempre tem chovido
Um dilúvio de rimas naturais
Meio-dia ou seis horas, tanto faz
Ouvirei meu programa preferido
*
Quando enfim a mudança acontecer
No horário a mesma alegria
Eu terei de estar na companhia
Do programa sentindo igual prazer
Como sempre, pedidos vou fazer
E depois eu escuto meu pedido
Em estrofes de verso bem medido
Em sextilha, em galope, em Pai Tomás
Meio-dia ou seis horas, tanto faz
Ouvirei meu programa preferido
*
Mas existe uma compensação
Gostei dela de incrível maneira
O que era de terça a quinta-feira
Não será com esse novo horário não
Mais dois dias com o Voz do Sertão
É um presente que está garantido
Se com três o programa é tão querido
Imagine com dois dias a mais
Meio-dia ou seis horas, tanto faz
Ouvirei meu programa preferido.
Por Luís Gondim

O novo horário será das 12h às 13h, diariamente.