Uma das estrofes mais repetidas no universo da poesia popular foi escrita por Rogaciano Leite, em Setembro de 1950.
"Senhores críticos, basta!
Deixai-me passar sem pejo,
Que o trovador sertanejo
Vai seu pinho dedilhar...
Eu sou da terra onde as almas
São todas de cantadores
-Sou do Pajeú das Flores
Tenho razão de cantar!
Essa estrofe inicia o poema "Aos Críticos"(no total são 16 estrofes), escrito quando o poeta estava no Rio de Janeiro e publicado no livro "Carne e Alma". Há uma controvérsia em relação a sua terra natal. Particularmente não compartilho desta discussão. Se ele é pernambucano de Itapetim ou de São José do Egito, tanto faz. Mas a verdade é que ele nasceu em junho de 1920 no Sítio Cacimba Nova, nas Umburanas, hoje pertencente a Itapetim, mas quando ele nasceu pertencia a São José do Egito, então pela obviedade em seu registro ele é egipsiense. Morreu no dia 7 de outubro de 1969 no Rio, seu corpo foi levado ao Ceará, onde foi enterrado em Fortaleza cidade em que viveu.
Meu bisavô paterno Juvino Leite foi irmão da mãe de Rogaciano, o que me faz ser pela árvore geneálogica prima em terceiro grau do poeta. E foi das histórias contadas por minha avó Nemésia Leite, sua prima legítima, que tive as primeiras impressões desse poeta malassombrado - que é como a gente chama os talentosos poetas do sertão. Acho inclusive um descaso um poeta do porte de Rogaciano ser praticamente desconhecido no seu Estado.
Com uma inquieta crítica às diferenças sociais Rogaciano deu voz ao grito do povo, ao escrever "Aos trabalhadores", em 1943. Um trecho:
"Trabalhar! Que o trabalho é sacrifício santo,
Estaleiro de amor que as almas purifica!
Onde o pólen fecunda, o pão se multiplica
E em flores se transforma a lágrima do pranto!
Mas não vale o trabalho andar a passo largo
Quando a estrada é forrada de injustiça e crimes
Porque em vez de dar frutos dúlcidos, sublimes,
Gera bargos mortais e de sabor amargo!"
Em sua viagem a Europa na década de 60, Rogaciano deixou fincado um pouco do seu talento em um monumento na Rússia, o poema acima "Aos trabalhadores", na praça de Moscou.
O escritor baiano Jorge Amado, ao ver uma apresentação do poeta disse: "Versos que seriam dignos da pena de Castro Alves!". E era como Rogaciano era comparado, inclusive pelo porte físico e pelas madeixas negras.
De cantador de viola a jornalista premiado, recebeu o prêmio ESSO pela reportagem "Amazônia", foi bancário e formou-se também em Direito. Soube passear pelos improvisos ao som da viola e pelas mais variadas formas de versos, do soneto aos motes e até composições, é de sua autoria a canção "Cabelos Cor de Prata", em parceria com Sílvio Caldas.
Em 1948 Rogaciano trouxe o primeiro festival de cantoria para dentro de um teatro, foi no Teatro de Santa Isabel que ele e Ariano Suassuna abriram as portas para a cantoria de viola, até então distante dos palcos teatrais.
O repentista Valdir Teles acertou ao escolher o "Poema da Minha Terra" da autoria de Rogaciano para gravar em seu CD Cancioneiros do Povo, dele e do também repentista João Lourenço. Para ser sincera me emociona demais...é a voz do pajeuzeiro Valdir com as sensações impressas de Rogaciano em suas lembranças.
Em suas apresentações em Manaus, Rogaciano confirmou seu talento e a crítica da época se curvou ao seu encanto. Reescrevo aqui as palavras do jornalista Kedeniro Teixeira, Diário da Tarde, da capital amazonense:
"...O recital de Rogaciano Leite, esse príncipe da poesia nordestina, trouxe aos ouvidos de quantos ali se achavam, pela variedade de sentimentos altamente patrióticos, pela beleza e perfeição, um deleite maravilhoso como se uma acusma de mistérios imateriais o acompanhasse, e por trás da cortina azul-celeste da ribalta o instruísse a fim de criar em nós um abismo profundo da dúvida entre as pérfidas escarpas da mistificação".(1948)
Viva Rogaciano! 30 de junho aniversário do poeta, se estivesse vivo seriam 89 anos de poesia.
grandioso poeta
ResponderExcluirsonetista gigante!!
grande abraço CLARISSA, visite meu blog!
è uma pena saber tão pouco sobre o poeta que tanto admira. Rogaciano nasceu em Itapetim em 1º de julho de 1920. O poema que está em Moscou é "Os Trabalhadores" e não Aos trabalhadores. E em Pernambuco sabe-se tudo ou quase tudo sobre o poeta. Dia 9, 10 e 11 de outubro será feita uma homenagem em sua terra natal pelos quarenta de anos de morte do poeta. Sua família estará lá em peso. Visite Itapetim se quiser saber mais sobre o poeta. Lá sim, vc encontra o quiser sobre ele. Informe-se melhor!!!
ResponderExcluirOlá Saulo, seja bem vindo a meu blog. Infelizmente só vi seu comentário hoje, 5 de outubro de 2009. Em relação ao título do poema você está certo é realmente "OS" Trabalhadores, ótima a sua correção. Acho que você está equivocado em afirmar que em Pernambuco "sabe-se" tudo sobre o poeta em questão.Vai em uma escola privada ou pública e pergunta a algum aluno, acho que como o talentoso Manuel Bandeira está na grade de literatura nas escolas, Rogaciano devia estar também, por isso fiz essa crítica. Estou sabendo do evento em Itapetim, até porque tenho primos e tios que moram lá, inclusive são dos Leite como eu. Acho que você foi infeliz em pedir para eu me informar melhor, graças a Deus tenho interesse e oportunidade de me informar, fiz Rádio e TV na UFPE, estudei Jornalismo na Maurício de Nassau, escuto boa música, leio bons livros, além de ter estudado inglês em Cambridge na Inglaterra. E só estou com 29 anos, por aí vem mais, se Deus quiser! De você só sei uma palavra o nome "Saulo", idendifique-se.
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ResponderExcluirQue honra tá aqui falando de Rogaciano Leite,ele que foi um grande poeta,escritor,jornalista,boêmio.Orgulho saber que fui familiar dele.Minha familia fez e faz parte do sítio Cacimba Nova(município de Itapetim),onde ele nasceu.Esses Versos de "Se Voltares...",é um dos destaques de seu livro Carne e Alma,gosto muito.
ResponderExcluirNão tenho o que falar de Rogaciano,pois não tive o PRAZER de conhece-lo.
Maiis concerteza
“Abraço-te com aplausos na certeza de que o teu livro terá uma grande e justa repercussão”
Mayara Luana Leite de Lima (:
TRIBUTO A ROGACIANO
ResponderExcluirRendo a ti, caro poeta,
O tributo de um plebeu
Gerado por um ousado
Aluno dos versos teus
Carne e alma ponho nele
Imito-te ó Prometeu
Aspirando a maestria
No fogo da poesia
Onde teu canto nasceu.
Legaste ao meu sertão
Essa vontade de cantar
Inspirando a inspiração
Terás a minha canção
Enquanto aqui passar.