Recebi um email repleto de saudade, de ambos os lados, daqui
do outro lado do atlântico(onde estou morando) e de lá, do Recife, do amigo do
peito e poeta Luís Gondim.
Depois de uma conversa com o embolador Pinto, o poeta Luís me
passou umas informações interessantes sobre esse mestre da rima e do pandeiro.
Matury e Pinto no Programa Voz do Sertão - Rádio Folha FM |
Vamos saber dados essenciais dessa figura, que além de
embolador, mantém uma barraquinha de café no centro do Recife, ali, perto da
Pracinha do Diário, onde inclusive, foi palco de muitos poetas repentistas no
passado.
Batizado com o nome de Dorgival Bezerra da Silva, escolhido
pela mãe, a professora Gercina Bezerra e pelo pai, o comerciante José Vicente,
o poeta Pinto Embolador nasceu em 26 de agosto de 1960 em Gravatá, agreste
pernambucano. Partiu para a estrada já em 1974, quando mudou-se para o Recife e
passou a morar com sua avó no bairro da Mangueira.
Muitos sucessos que você conhece, por exemplo, com a dupla
Caju e Castanha, são da autoria da dupla Pinto e Rouxinol, artistas que permaneceram
juntos por 25 anos, hoje Rouxinol migrou para a cantoria de viola, trocando o
pandeiro pelo improviso dos cantadores.
Você já ouviu: O Ladrão Besta e o Sabido, O Pobre e o Rico, O
Crente e o Cachaceiro, A Mulher Bonita e a Mulher Feia, A Herança da Minha Avó,
A Mulher Gorda e a Magra, O Filho do Doutor e A Criança Abandonada? São alguns
dos sucessos assinados por Pinto, muitos em parceria com Rouxinol.
São versos de caem na graça do povo porque falam de assuntos
engraçados do cotidiano e que carregam a criatividade, talento e humor,
inerentes aos nordestinos.
Pinto já esteve em diversos palcos, mostrou em outros países o som da embolada nordestina como em sua viagem para Europa, em especial, na bela capital de Portugal, Lisboa. Já foi atração de inúmeros
congressos de improviso e é autor de cordéis e poesias que seguem as métricas
exigentes da poesia rimada desses menestréis.
O começo foi nos mercados, ou seja, onde o povo está. O
primeiro palco para suas aparições foi o mercado de São José, no centro do
Recife. Fez rimas com Beija-Flor, Oliveira, Azulão, Curió, Seriema, Brasa Viva,
Lavandeira, Labareda, Pinta Silva, Gogó de Sola, entre outros. Entre os principais
incentivadores de seu trabalho, cita os repentistas Cachimbinho e Geraldo Mouzinho,
Sabiá e Café Preto.
Hoje seu trabalho é com o embolador Matury, já conta 8 anos
de dupla com o poeta, o CD mais recente gravado foi “Só emboladas”, à venda no
centro do Recife, no local onde Pinto trabalha. Você pode provar um café quente
e gostoso e ainda ter uma prosa com o poeta.
Para colecionadores, escute as raridades da embolada nos dois
LPs: "Homenagem a Frei Damião (Polygram), de 1985, com Rouxinol; e
"Manchetes do Brasil", de 1994. Vale a pena escutar o CD “Os reis da
embolada”, esse trabalho saiu após receber esse mesmo título quando a dupla
Pinto e Rouxinol ganhou o primeiro lugar em um Festival de Emboladores no Teatro
do Parque, evento que teve o apoio da TIM.
É lamentável a falta de espaço
que esses poetas de peso sofrem. Quando foi o último festival de embolada que
você foi, leitor? Onde estão as produções culturais para valorizar essa
modalidade de poesia, tão particular da nossa música, e tão utilizada por
artistas de peso da MPB?
Veja uns improvisos feitos no centro do Recife, no programa Toda Música, veja o vídeo aqui.